top of page

A bibliotecária

  • Desafios da Escrita
  • 24 de set. de 2021
  • 2 min de leitura

Naquele dia, como já era habitual, estava preparada para mais um dia monótono. Mas, nos bastidores da vida, algo se preparava para mudar o rumo da minha vidinha arrastada e sem graça.

Mais um dia de trabalho igual aos outros. Preparei-me para fechar a biblioteca e regressar a casa, que me esperava vazia. Apaguei as luzes e ouvi um barulho ao fundo do corredor de literatura infantil. Fui verificar o que se passava e encontrei duas crianças escondidas atrás da prateleira dos livros. Aparentavam ter cerca de 9 e 5 anos. Perguntei-lhes o que faziam ali sozinhas e se alguém as vinha buscar. Responderam que estavam a fazer tempo depois da escola, enquanto a mãe não saí do trabalho.

Após várias tentativas falhadas de telefonar para a mãe destas meninas, decidi levá-las a casa, pois estava muito frio e escuro. Elas resistiram ir comigo, durante algum tempo, mas acabaram por aceitar a minha boleia até casa.

Ao lá chegar, apercebi-me que esta se encontrava vazia, nenhum sinal de qualquer familiar. Resolvi telefonar à minha amiga, que é assistente social, e pedir-lhe um conselho: o que deveria fazer naquela situação? Ela concordou que levasse as crianças para a minha casa, pois já era tarde e final de semana, enquanto ela procurava informações sobre algum familiar delas.

Acabaram por ficar comigo algum tempo. Viver com outras pessoas depois de tanto tempo sozinha foi uma adaptação difícil. As rotinas da escola, refeições, banho foram mais desafiantes do que estava à espera. Nunca soube o que era ser responsável por alguém, quanto mais por duas crianças tão pequenas.

Após algum tempo, finalmente, a minha amiga contactou-me. Tinham passado três semanas. Ficámos a saber que a mãe das meninas teve um problema de saúde repentino durante o trabalho e tinha estado em coma no hospital. Encontrava-se agora em recuperação e muito agradecia por alguém ter acolhido as suas filhas. Em breve, regressariam a casa e levariam com elas um bocadinho do meu coração a quem já se tinha afeiçoado.

Depois desta aventura inesperada, já não me consigo imaginar sozinha, sem crianças à minha volta. Por isso, decidi criar um programa na biblioteca para as crianças da minha cidade. Três vezes por semana, recebo turmas das escolas locais a quem leio histórias e realizo variadas atividades didáticas para trazer alegria, carinho e fantasia à vida delas e iluminar a minha, também.

Agora, sinto que a minha vida tem um sentido.


Mónica Gomes, 12º28 / 2021

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
E era a hora do regresso

Comecei a namorar muito cedo. Apaixonei-me por ele à simples primeira vista. Era mais alto do que eu, tinha uns cabelos escuros e lisos,...

 
 
 
E era a hora do regresso

E era a hora do regresso No calor do verão, sob o céu a brilhar, estavam dois apaixonados, com destinos a se entrelaçar. O tempo parece...

 
 
 
Cansada de voar contigo

Cansada de voar contigo Para aqui e para ali Tornamo-nos lobos solitários Daquela alcateia ainda não encontrada   E tu depositaste fé em...

 
 
 

Comments


Arquivo

Publicações

Open%20Book_edited.jpg

PALAVRAS COM ALMA

Desafios de Escrita

Logotipo-Branco.png

© 2020 por Desafios de Escrita | ESFF

Obrigado por enviar!

bottom of page