Sem filtros
- Desafios da Escrita
- 31 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Sem filtros
É uma quinta-feira e ele acorda com vontade de mudar o mundo. Ou o seu, pelo menos. As pessoas sempre dizem que vive num mundo à parte mas ela nunca percebeu bem o porquê. Talvez seja pela capacidade que tem de se abster das coisas más da vida sempre que quer, ou conseguir ter sempre uma visão positiva acerca de tudo.
Faz o seu café bem preto para manter-se acordada pelo dia e vai à varanda aproveitar o calor do sol da manhã, não conseguindo conter o sorriso por se sentir bem por mais um dia em que está a presenciar o céu azul, a brisa leve e o sol, o que lhe dá mais felicidade e paz na vida. As pessoas não conhecem este seu lado, é a maior observadora que eu já vi. Tem um lado poético que poucos conhecem e pensa, pensa muito sobre tudo. Pensa sobre as pessoas que vê no café, o que será que as faz se apressarem tanto? Pensa sobre os meninos tristes que vê na escola ou sobre os animais que passam por si tão sozinhos. Mas não conta a ninguém.
Continuando com a presença do sol, começa a bater com a pequenina colher na chávena fazendo aquele barulho de louça que não gosta. Outra coisa que ninguém sabe: também não gosta de barulho (exceto o chilrear dos pássaros ou o rugir do mar). Pensa que pode de repente fazer uma música com uma colher e uma chávena ou fingir que está num casamento e dizer uma informação importante levando todos os vizinhos às suas varandas, manifestando a sua existência. Mas ela nunca faria isso, o seu maior defeito é preocupar-se mais com a sua imagem e aquilo que ela transmite para os outros do que com qualquer outra coisa. Gosta muito de sentir-se bonita para si mas adora ainda mais elogios vindos de outras gentes. A sua mãe mete sempre a culpa de ser muito vaidosa no seu signo e ela ri-se.
Volta para a sala e infelizmente o seu café já acabou. Pega num livro e fica novamente a pensar. Quem lhe dera ser escritora, escrever poemas, mostrar quem é. Embora a sua necessidade de mostrar tudo perfeito para mundo não o permita, continua a sonhar e adora fazê-lo porque faz esquecer-se da desgraça que há lá fora quando não está sentada no sofá a contemplar a paisagem e com o seu livro na mão. Lê umas páginas e fica a admirar pelo pensamento a mulher feminista descrita naquelas linhas. Adora sentir o poder das mulheres e fica muito grata à vida por ter nascido no corpo de uma.
Está quase na hora de ter que ir apanhar o autocarro para as aulas e arranja-se o melhor que pode para aquele dia, não gosta de passar despercebida. Vai para a paragem e apanha o autocarro, voltando novamente à observação profunda de quem e daquilo que a rodeia. Incrível como tanta coisa se passa dentro da cabeça de alguém e ninguém sabe, a não ser essa mesma pessoa.
Este texto descreveu aquela menina sem filtros, como ninguém a conhece. Aquela menina sou eu e finalmente me conheço. Esta sou eu, sem filtros.
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