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Devolver a literatura ao mundo

  • Desafios da Escrita
  • 26 de abr. de 2024
  • 2 min de leitura

Devolver a literatura ao mundo

 

Os restauradores estavam exaustos. O volume de livros, nos Cuidados Intensivos, aumentava, de dia para dia, a uma velocidade incontrolável, e os amantes da literatura começavam a recorrer a outros meios para “curar a alma”. A “Praga do Papel”, que destruía todos os livros do mundo, não parecia cessar, tão cedo.

Após muito investigar, descobri, na primeira manhã de julho, o responsável por esta doença. Fui ao seu encontro. Os seus cabelos compridos escondiam um olhar impenetrável, e as suas unhas roídas denunciavam a sua fraqueza. Imediatamente, o jovem explicou que o fizera por raiva, já que os seus pais o proibiram de jogar videojogos, para estudar, para uma ficha de verificação de leitura. Acrescentou que se inspirara num jogo de computador e que não sabia como reverter a situação.

Nessa mesma manhã, começámos a seguir os passos do jogo. O primeiro destino obrigou-nos a abandonar a cidade. Ao fim de duas horas, chegámos. À nossa frente, os montes pintavam-se de louro e, perante aquela tranquilidade, o tempo parecia abrandar… Porém, reparei, de súbito, que uma avestruz, por ali caminhava, tal como no jogo. Esta poderia indicar-nos uma solução para o nosso problema. Assim que a chamámos, todavia, enfiou a cabeça no solo e ignorou-nos, completamente. O rapaz procurou, desesperadamente, no videojogo como atrair a atenção dela e descobriu que teria de tocar uma música. Contudo, com a praga, todas as partituras estavam desfeitas…

Subitamente, um rouxinol pousou, no meu ombro, e começou a cantar. Como se tivesse sido hipnotizada, a avestruz foi até nós.

- Não desesperem! Há um mocho que come as palavras, antes de serem destruídas, impedindo a sua total exterminação. – Murmurou a avestruz, sem nos deixar falar. – Ele está na livraria mais antiga do país e, apenas, surge perante a luz… sim, perante a luz.

Regressámos, então, à cidade, enquanto o sol desaparecia no horizonte. Na livraria deserta, o silêncio preenchia o vazio das prateleiras. Com uma lanterna, percorremos os corredores. Inesperadamente, surgiu um mocho em frente aos nossos olhos.

Podes ajudar-nos? – Perguntei.

- Levem uma pena minha - retorquiu - Nela, estão contidas todas as palavras do mundo, escritas por todas as gerações da Humanidade. Queimem-na e terão os livros de volta!

O jovem rapaz, covardemente, recusou-se a arrancar a pena. Então, eu tirei-a e coloquei, finalmente, a pena do mocho na lareira dessa livraria. A noite amanheceu com aquela explosão. Em breves instantes, a pena desfez-se em cinzas que se propagaram, pelo globo, e deram forma aos livros, aos sonhos escritos. Foi, deste modo, que conseguimos salvar o mundo da “Praga do Papel”.

 

 

Matilde Brazão – 11º 24

 
 
 

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