O encontro de uma vida
- Desafios da Escrita
- 4 de out. de 2021
- 4 min de leitura
Estava com a minha esposa e com o meu filho no carro quando os serviços secretos avisaram que já estávamos perto do restaurante, fazia dez anos que havia partido para o Estados Unidos e desde aí nunca mais tinha visto os meus amigos. Fui eleito Governador do Estado de Ohio e desde que tínhamos chegado a Portugal não parava de pensar no que eles se tinham tornado e dos que sabia, estava bastante orgulhoso. O nosso reencontro foi marcado no SMART (um pequeno restaurante que íamos nos intervalos) e depois íamos entrar na escola e procurar alguns dos nossos antigos professores (e relembrar os momentos que passamos juntos na escola, chega até a ser interessante o quanto um simples sítio pode guardar momentos, segredos, choros e alegrias que os próximos que lá passaram não imaginaram).
- Senhor, chegamos. – Informou o meu chefe de segurança.
- Não sei se estou pronto! – Respondi eu nervoso.
- Amor, são os teus amigos, vai correr tudo bem. – Reconfortou-me a minha mulher
- Eu não os vejo desde o final do décimo segundo, isto é assustador para mim percebes? – Respondi, questionando.
- Claro que eu entendo e eu estou aqui para te apoiar se precisares, sabes bem disso. - Afirmou ela.
- Eu sei, sempre estiveste desde…
Antes de poder acabar a frase os nossos chefes de segurança abriram as portas do carro. Saímos os dois e entrámos no restaurante. Estava igual, a mesma cor das paredes, as mesmas pessoas (mais velhas claro), as mesmas mesas e cadeiras, e já lá estava o Lourenço (confesso que tinha muitas saudades dele, era o mais engraçado da turma). Junto a ele, estava a sua esposa, Maria, e os seus dois filhos, João e Teresa. Dono de uma empresa de automóveis, tinha agora uma das maiores fortunas pessoais do país e dentro de meses seria novamente pai. Em seguida, chegou a Laura, mas as minhas saudades dela eram poucas. Juntos desde a pré, tínhamos mantido o contacto e as nossas vidas estavam para sempre ligadas ( fui padrinho de casamento dela e do seu primeiro filho, e a minha esposa é madrinha dele). Entretanto chegaram a Diana e o Matias. Namorados desde o décimo ano, tinham casado e esperavam o primeiro filho. Diana tornou-se assistente social e o Matias jogava na equipa principal do Benfica (vencedor já de uma bola de ouro). Depois chegou a Inês, prima da Diana (tive uma paixoneta por ela e estava a fazer figas para que o assunto não viesse a ser falado no almoço) que casara com um rapaz inglês e já era mãe de duas meninas gémeas. Como eu, ocupava um cargo público, no seu caso, era membro da Câmara dos Comuns e em breve podia vir a ser a terceira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra. Comecei imediatamente a falar com ela:
- Então é desta que te candidatas?
- Provavelmente sim, ainda tenho de reunir alguns apoios. – Respondeu ela
- Eu acredito que vais conseguir. – Disse, confiante.
- E tu, essa história do referendo sempre avança? – Perguntou ela.
- Não sei, é improvável. – Respondi, duvidoso.
A Inês é também uma das poucas pessoas com quem mantive contacto graças aos nossos cargos e às muitas visitas de Estado que fiz ao Reino Unido.
Chegaram mais tarde, o José, o Diogo, a Carolina, as Marianas, a Catarina, o Gustavo e os restantes da turma. Falamos muito e conseguimos partilhar entre nós os últimos dez anos e acabar com as saudades dos nossos tempos de escola. Fiquei muito feliz por terem todos concretizado os seus sonhos e que tenham encontrado o seu caminho para o sucesso. Eramos todos de Línguas e Humanidades, mas alguns acabaram por fazer exames e formaram-se em medicina, outros eram pilotos de grandes companhias e comandantes de navios e outros seguiram o seu caminho pelo direito.
O almoço correu bem. Ficámos ao pé do Matias e da Diana e foi ótimo partilhar com eles os nossos percursos de vida. Uma das grandes perguntas que nos fizeram foi: como é ter um filho? Deixámos bem claro que é das melhores coisas de sempre, mas também traz muita responsabilidade. Já não somos só nós, agora também é o nosso filho e devemos dedicar-nos inteiramente a ele. Não podemos deixar de nos cuidar bem e manter a vida que tínhamos juntos antes. É complicado, mas fazemos o máximo para fortalecer a nossa relação.
Estávamos a comer a sobremesa quando a minha esposa começou a sentir-se muito mal. O Pedro, que é pediatra, disse ao meu ouvido que achava que ela estava grávida. Então, pedi a um agente que fosse comprar um teste. Quando ele chegou, a Joana foi fazê-lo e fiquei na mesa a ser acalmado pelos meus amigos. Quando ela saiu, o meu coração começou a bater muito rápido e as lágrimas na cara dela só podiam afirmar que íamos ter mais um filho. Assim se confirmou. A minha turma festejou muito a notícia e nós não podíamos estar mais felizes com esta bênção.
Concluímos o nosso dia com a visita à escola. Andámos pelos corredores, onde um dia uma versão mais nova de nós andou cheia de sonhos, e fomos às salas onde aprendemos (até nos sentamos nos nossos lugares). Encontrámos o nosso professor de geografia do décimo ano e ficamos muito espantados por ele estar sempre a tentar acompanhar de perto os nossos destinos. Eu e a Joana decidimos convidar o professor para ser o padrinho do nosso bebé, era o mais certo a fazer pelo senhor que tanto fez e faz pelos seus alunos. Foi um dos melhores dias da minha vida e espero que voltemos a fazê-lo em breve (vamos ter de fazer pois já estão convidados para o batismo da nossa menina).
Estou a terminar este texto no dia em que um referendo permitiu que eu me tornasse a primeira pessoa não nascida nos Estados Unidos a se candidatar á presidência. Dentro de momentos, falarei para uma multidão e vou apresentar a minha candidatura. A Inês também hoje iniciou a sua campanha a primeira-ministra e estou confiante que ambos vamos conseguir ocupar estes cargos. Por mais que não nos apercebamos, a escola foi a razão destas amizades e não podia estar mais grato por isso estou grato a Deus por todas as oportunidades que nos deu e tem dado.
Espero que os nossos filhos tenham amizades destas e que não tenham de esperar tanto tempo para voltarem a ver os seus amigos de escola.
Francisco Gomes – 12º 21 / 2020/21
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