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O ENCONTRO DE UMA VIDA

  • Desafios da Escrita
  • 24 de abr. de 2024
  • 5 min de leitura

O ENCONTRO DE UMA VIDA


Estava com a minha esposa e com o meu filho no carro quando os serviços secretos avisaram que já estávamos perto do restaurante. Fazia dez anos que havia partido para o Estados Unidos e desde aí nunca mais tinha visto os meus amigos. Fui eleito Governador do Estado de Ohio e desde que tínhamos chegado a Portugal não parava de pensar no que eles se tinham tornado e dos que sabia, estava bastante orgulhoso. O nosso reencontro foi marcado no SMART (um pequeno restaurante que íamos nos intervalos) e depois íamos entrar na escola e procurar alguns dos nossos antigos professores (e relembrar os momentos que passamos juntos na escola, chega até a ser interessante o quanto um simples sítio pode guardar momentos, segredos, choros e alegrias que os próximos que lá passaram não imaginaram).

                - Senhor, chegamos – disse o meu chefe de segurança

                - Não sei se estou pronto – disse eu nervoso

                - Amor, são os teus amigos vai correr tudo bem – disse a minha mulher

                - Eu não os vejo desde o final do décimo segundo, isto é assustador para mim percebes? – respondi

                - Claro que eu entendo e eu estou aqui para te apoiar se precisares, sabes bem disso – ela respondeu

                - Eu sei, sempre estiveste desde… - antes de poder acabar a frase o nossos chefes de segurança abriram as portas do carro

Saímos os dois do carro e entramos no restaurante. Estava igual a mesma cor das paredes, as mesmas pessoas (mais velhas claro), as mesmas mesas e cadeiras e já lá estava o Lourenço (confesso que tinha muitas saudades dele, era o mais engraçado da turma), junto a ele estava a sua esposa (Maria) e os seus dois filhos (João e Teresa). Dono de uma empresa de automóveis, tem agora uma das maiores fortunas pessoais do país e dentro de meses seria novamente pai. Em seguida, chegou a Laura mas as minhas saudades dela eram poucas, juntos desde a pré tínhamos mantido o contacto e as nossas vidas estavam para sempre ligadas ( fui padrinho de casamento dela, e sou padrinho do seu primeiro filho e a minha esposa é madrinha).

                Entretanto chegaram a Diana e o Matias. Namorados desde o décimo ano, tinham se casado e esperavam o primeiro filho. Diana tornou-se assistente social e o Matias jogava na equipa principal do Benfica (vencedor já de uma bola de ouro). Depois chegou a Inês, prima da Diana (tive uma paixoneta por ela e estava a fazer figas para que o assunto não viesse a ser falado no almoço), casada com um rapaz inglês e já mãe de duas meninas gémeas. Como eu, ocupava um cargo público, neste caso era membro da Câmara dos Comuns e em breve podia vir a ser a terceira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra. Comecei imediatamente a falar com ela:

                - Então é desta que te candidatas?

                - Provavelmente sim, ainda tenho de reunir alguns apoios – respondeu.

                - Eu acredito que vais conseguir – disse eu.

                - E tu, essa história do referendo sempre avança? – perguntou curiosa.

                - Não sei, é improvável – respondi.

A Inês é também uma das poucas pessoas com quem mantive contacto graças aos nossos cargos e ás muitas visitas de Estado que fiz ao Reino Unido. 

Chegaram mais tarde, o José, o Diogo, a Carolina, as Marianas, a Catarina, o Gustavo e os restantes da turma. Falamos muito e conseguimos partilhar entre nós os últimos dez anos e acabar com as saudades dos nossos tempos de escola. Fiquei muito feliz por terem todos concretizado os seus sonhos e que tenham encontrado o seu caminho para o sucesso. Eramos todos de Línguas e Humanidades mas alguns acabaram por fazer exames e formaram-se em medicina, outros são pilotos de grandes companhias e comandantes de navios e outros seguiram o seu caminho pelo direito.

O almoço correu bem ficamos ao pé do Matias e da Diana e foi ótimo partilhar com eles o nosso percurso e saber o deles. Uma das grandes perguntas que nos fizeram foi: como é ter um filho? Deixamos bem claro que é das melhores coisas de sempre, mas também trás muita responsabilidade, já não somos só nós, agora também é o nosso filho e devemos nos dedicar inteiramente a ele. Não podemos deixar de nos cuidar bem e manter a vida que tínhamos juntos antes é complicado mas fazemos o máximo para fortalecer a nossa relação.

                Estávamos a comer a sobremesa quando a minha esposa começou a sentir-se muito mal. O Pedro que é pediatra disse ao meu ouvido que achava que ela estava grávida, então, pedi a um agente que fosse comprar um teste. Quando ele chegou com o teste, a Joana foi fazê-lo e fiquei na mesa a ser acalmado pelos meus amigos. Quando ela saiu o meu coração começou a bater muito rápido e as lágrimas na cara dela só podiam afirmar que íamos ter mais um filho, assim se confirmou. A minha turma festejou muito a notícia e nós não podíamos estar mais felizes com esta bênção.

                Concluímos o nosso dia com a visita á escola. Andamos pelos corredores onde um dia uma versão mais nova de nós andou cheia de sonhos e fomos às salas onde aprendemos (até nos sentamos nos nossos lugares). Encontramos o nosso professor de geografia do décimo ano e ficamos muito espantados por ele estar sempre a tentar acompanhar de perto os nossos destinos. Eu e Joana decidimos convidar o professor para ser o padrinho do nosso bebé, era o mais certo a fazer pelo senhor que tanto fez e faz pelos seus alunos. Foi um dos melhores dias da minha vida e espero que voltemos a fazê-lo em breve (vamos ter de fazer pois já estão convidados para o batismo da nossa menina).

                Estou a terminar este texto no dia em que um referendo permitiu que eu me tornasse a primeira pessoa não nascida nos Estados Unidos a se candidatar á presidência.  Dentro de momentos falarei para uma multidão e vou apresentar a minha candidatura. A Inês também hoje iniciou a sua campanha a primeira-ministra e estou confiante que ambos vamos conseguir ocupar estes cargos. Por mais que não nos apercebemos a escola foi a razão destas amizades e não podia estar mais grato por isso, bem como estou grato a Deus por todas as oportunidades que nos deu e tem dado. Espero que os nossos filhos tenham amizades destas e que não tenham de esperar tanto tempo para voltarem a ver os seus amigos de escola.


Francisco Gomes

 

 

 
 
 

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