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O sonho de Carla

  • Desafios da Escrita
  • 24 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

 O sonho de Carla 

 

    Era uma vez uma linda flor chamada Carla que vivia num pequeno bosque mesmo ao lado do rio Gaspar, perto de uma aldeia. Carla era uma linda margarida e, como todas as flores, quando chegasse a primavera iria desabrochar e perfumar este novo mundo que para ela começava ali, com aquele simples abrir de pétalas. O tempo foi passando e a tão aguardada primavera chegou, trazendo todo um novo mundo de cor, alegria e perfume. Passado tanto tempo depois de ter sido semeada, Carla, finalmente, podia ver com os seus próprios olhos o sol, sentir o vento a bater-lhe nas pétalas e, quem sabe, conhecer o mundo. 

    Eis que chegou a hora e Carla não podia estar mais radiante. Quando viu a primeira luz do sol, foi o vislumbrar de uma nova realidade. Naquele momento, sentiu-se grata e percebeu que toda aquela espera valeu a pena. 

   Os dias foram passando, e Carla já começava a sentir-se cansada daquela rotina de abrir com o sol e fechar quando este se ponha. Queria conhecer o resto do mundo, não queria viver ali plantada para sempre. 

   Certo dia, uma abelha chamada Vera decidiu fazer uma visita a Carla. Quando esta se deparou com Vera, começou a questioná-la – “Amiga, porque não posso sair daqui? Porque não me é permitido conhecer o resto do mundo enquanto posso? Porque não tenho asas e não voo pelos céus à procura do desconhecido, como tu?” – A abelhinha, com tantas perguntas e sem saber como lhe responder, apenas lhe disse que a vida é mesmo assim, por vezes um pouco injusta, mas com força de vontade e dedicação tudo é possível. Vera explicou-lhe que por ser uma planta nunca poderia voar nem sair do mesmo lugar, a natureza fizera-a assim, e ela não conseguiria mudar isso. Mas uma coisa ela nunca poderia perder que era a força do querer, com ela é que se consegue realizar os nossos sonhos. 

   Carla ficou bastante triste em saber desta novidade, não queria estar todos os dias a acordar e a deitar-se sempre para o mesmo lado, ver constantemente as mesmas árvores, as mesmas flores, os mesmos pássaros, até mesmo o lindo rio Gaspar que ficava à sua frente a correr com a água tão limpa e brilhante. Perante tal insatisfação, ela tinha de tomar uma atitude. Foi, então, que pôs a imaginação a trabalhar. Esteve dias e dias a pensar numa possível solução, mas nada lhe chegava. Nem a inteligência e imaginação de Vera, que a vinha visitar regularmente, a conseguiu ajudar com a elaboração de algum plano. 

    Carla já estava prestes a desistir desta ideia de conhecer o mundo quando, de repente, num lindo dia de sol, eis que chega à margem do rio, onde se encontrava Carla, uma linda rapariga com a sua mãe. Esta menina chamava-se Ana e veio passear junto àquele curso de água a ver se apanhava alguma flor para dar mais luz ao seu jardim. Foi aqui que apareceu a grande oportunidade que a Carla tanto desejava, seria preciso muito sorte para que entre tantas, lindas e maravilhosas flores ela fosse a escolhida. Carla teve de se esforçar muito, esticou o seu comprido e lindo caule o máximo que podia, abriu as suas lindas pétalas de modo a que brilhassem com o sol, e eis que a sorte lhe bateu “à porta”. Carla foi a flor que Ana escolheu. Sua mãe, com muito cuidado, transpôs Carla da terra para um vaso e levou-a para casa. 

    No caminho, Carla sentiu que por muito injusta que a vida pudesse ser recompensou-a. Quantas flores dariam tudo para estar no lugar dela. Durante a viagem, aproveitou aquele momento único e foi apreciando cada detalhe, desde o carro da mãe de Ana, até aos pequenos pormenores do percurso. Carla sentia-se mais feliz do que nunca e, finalmente, ia para um sítio diferente. Assim, tudo o que ela mais queria nesta vida, poder viajar e conhecer o mundo, estava a acontecer. Por muito incerto que fosse o

lugar para onde ia, só o privilégio que tinha em poder sair do lugar onde nascera e ir para um completamente diferente, valia mais que tudo, afinal, eram estas pequenas particularidades que faziam e fazem a diferença.

    Quando chegaram a casa da Ana, Carla foi posta no alpendre ao lado de outras tantas flores, um verdadeiro ninho de diversidade, cor e perfume. Aí, Carla conheceu tantas amigas novas, que não eram da sua espécie e pode sentir-se única não sendo mais uma entre tantas. Foi regada e sempre bem tratada, quer pela mãe de Ana, como pela avó, que vivia com elas. 

    A avó de Ana passava grande parte dos dias a cuidar das flores falando e dando sempre muito amor a cada uma. Um lugar melhor do que este Carla nunca imaginou para passar o resto dos seus dias. Carla percebeu que os sonhos podem tornar-se realidade, basta nunca perder a esperança, a força e acreditar para se ser feliz! 


Francisco Barbosa

 
 
 

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