A casa que afinal não era assombrada
- Desafios da Escrita
- 24 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Eram onze horas da noite, e eu estava em casa com a minha cadelinha, ambas aborrecidas. Tive então a ideia de irmos dar um passeio noturno, sem saber o que nos aconteceria depois. Saímos de casa, a lua estava cheia, e estava tanto silencio que parecia que todos os seres do mundo já dormiam. Depois de andarmos há quase uma hora, passámos por uma casa antiga e sombria, da qual todos temiam, porém, naquela noite, havia algo de diferente. Uma luz vermelha piscava por detrás de uma janela. A Milu começou a puxar a trela com força, cheia de medo, para sairmos dali. Eu sabia que não era seguro, mas a minha curiosidade era maior do que o meu medo, então, peguei-a ao colo e dirigi-me à casa. Era enorme e eu tinha a certeza que anos antes a casa havia sido habitada por famílias muito ricas. Subi as escadas de madeira que levavam à porta de entrada e, quando entrei na casa, uma repentina corrente de ar fez a porta fechar-se com força e deitar a maçaneta ao chão. Como iria eu sair dali? Naquela confusão, a Milu saltou do meu colo e eu perdi-a. Só queria gritar por ajuda e encontrar de novo a minha cadela, mas não o fiz. Liguei a lanterna do telemóvel e fui à procura de uma outra saída, para ter a certeza de que não ficaríamos ali presas. Contudo, não encontrei nenhuma porta, e o meu telemóvel estava sem rede. Não sabia mais o que fazer. Gritei, gritei, mas àquelas horas quem andaria naquela rua senão eu? De repente, uma voz feminina, mas um pouco assustadora, começou a falar comigo.
- Agora que aqui entraste, tens quarenta e oito horas para completar todas as etapas desta missão, senão, ficarás aqui presa para sempre. - foi o que disse.
Aceitei, e a primeira etapa era encontrar o interruptor para ligar todas as luzes da casa. Achei muito simples vindo de uma casa assombrada, talvez até um pouco forçado, mas, assim, ainda era melhor para mim. Andei durante um pouco mais de uma hora e meia e, finalmente, encontrei-o (e não é que a luz do telemóvel até dá jeito?). Quando acendi, vi que a casa era magnífica! Pequenas esculturas em dourado, grandes quadros com pessoas e carpetes trabalhadas percorriam toda a casa. Tive a ideia de perguntar quem eram os homens e mulheres retratados naquelas tão brilhantes pinturas, afinal, já estava presa dentro de uma casa assombrada sem saber da minha Milu, nada era pior que isso. Senti a voz da casa a ficar mais calma...Talvez até mais triste. Contou-me que eram os seus antigos proprietários e que depois do último afirmar que a casa estava cheia de espíritos dos outros habitantes, já ninguém a queria comprar. Perguntei-lhe se ela estava bem, e a sua voz ficou de novo assustadora e mandou-me fazer outra etapa. Ordenou-me que encontrasse a minha cadela, senão ela morreria à fome. E foi o que fiz, mas a casa era tão grande que procurei, procurei, e já o sol nascia e eu ainda não a tinha encontrado. Comecei a chorar e foram tantas as lágrimas deitadas que eu adormeci numa esquina da casa. Penso que acordei por volta das dezassete horas, quase dezoito, pois era inverno e o dia já estava a ficar escuro. A casa falou. Pediu-me desculpas e disse que não tinha coragem de me fazer tais coisas, pois fui a primeira que teve a coragem de lá entrar e, como tal como eu, ela sabia como era estar a sentir-se sozinha. Eu nem soube como reagir. Disse-me que a Milu estava na cave, nas melhores condições a descansar e que só estava a dar-me o desafio com as etapas até quarenta e oito horas para ter a companhia de alguém. Disse-me também que me deixava sair da casa, mas eu fiquei com pena, e visto que era fim de semana e os meus pais estavam numa viagem de negócios, eu fiquei a fazer-lhe companhia até ser domingo à noite e eu precisar de ir para casa dormir, para uma nova semana.
Durante as últimas trinta horas, a casa que todos chamavam de assombrada, tratou-me de forma impecável. Ajudou-me a não me perder na casa, guiou me até à cozinha onde tinha frutas que ela própria colheu com a sua magia, deixou me dormir numa das suas camas e conversou comigo. Infelizmente já se tinham passado dois dias e eu precisei de ir, mas prometi ir visitá-la sempre que pudesse, e assim o fiz.
Uns tempos depois, uma família de imigrantes, que não sabia dos boatos acerca da casa, comprou-a e, desta forma, a casa mais temida e assombrada daquela rua, tornou-se a casa com mais felicidade e vida que eu já tinha visto.
Sandra Fabiana Martins – 11º 25 / 2021
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