Ufa! Já não aguento!!!!

Sendo nós umas sapatilhas, consideramos que por mais banal que sejamos, conseguimos ter uma definição para além do que os olhos humanos podem nos atribuir.

Desde o primeiro dia que nos deram uso, tentámos não desgastar a nossa sola para que fossemos úteis o máximo de tempo possível, para que pudéssemos, muito ou pouco, ser uma das razões pelas quais alguém tivesse percorrido um caminho que valesse realmente a pena, e não uma corrida em que o objetivo fosse chegar primeiro à meta ou, simplesmente, parar no meio, quando ainda nos restava tanto e tanto para atingir o limite…

Sei que às vezes podemos ter criado demasiadas expectativas sobre quem nos calçava, mas também sabemos que a maior parte das vezes, usaram-nos apenas como um suporte de carga em que não conseguimos encontrar nenhum detalhe, uma justificação forte o suficiente para permanecer a proteger os pés, a ajudar a levá-los aos sítios certos e, por ventura e muito discretamente, fazê-los viver momentos em que descalços não conseguiriam sequer encostar os pés na estrada, por esta ser tão deformada, e magoar demasiado.

Nós não queremos ser só algo que se usa e desusa, queremos ser algo que, mesmo que existam essas duas opções, alguém faça questão de que lhes façamos companhia, seja qual for o nosso aspeto, seja qual for a nossa falha, até porque as adquirimos a percorrer o que os teus passos percorreram, a carregar, não só o peso do teu corpo, mas o peso de todas as tuas preocupações, medos, alegrias, e… sabes? Apesar de nunca teres olhado para baixo, nunca deixámos nenhum atacador nosso soltar-se e fazer-te tropeçar.

Ana Carolina Gomes - 12º 24 – 2020/2021